Uma mulher sempre espera; quer por um motivo ou outro ela sempre, sempre espera. Espera ansiosamente e desenvolve toda uma rotina, característica de todas as mulheres, independente da opção sexual, etnia ou religião e que difere pouco uma da outra.
Essa rotina começa quando ela implora com os olhos por um convite dele ou dela para jantar, saírem juntos, um motelzinho quem sabe. Quando o convite acontece, então ela começa a sonhar...
Fica imaginando por segundos, minutos, o que vai vestir, do que vão falar, aonde vão; visualiza mentalmente cada cena, afinal não poderá correr o risco de alguma coisa dar errado, já que esperou tanto.
Esperar, eis uma coisa que ela faz muito: esperar.
Em letras maiúsculas, negritas, ela conhece bem não só seu significado, afinal esperou tanto, tantas vezes, variadas companhias.
Em sua busca pela eterna felicidade (segundoVinícios de Moraes, “que seja eterno enquanto dure”) ela esperou encontrar em cada um, em cada olhar, a companhia ideal, o amante profissional, o amigo de todas as horas, o cúmplice de todos os planos, o romance, e até, quem sabe, uma família. Mas cada vez se aventurava menos.
Acostumada a esperar ela não sabia enumerar as vezes em que esperou no restaurante, em casa, no cinema, a ligação. Ahhhh a ligação. Nessa era campeã, “amanhã eu te ligo”, “te ligo pra combinarmos um final de semana” e nada de ligação.
Deve ter sido o carro... quem sabe a mãe está doente, foi o chefe dele que ligou marcando uma reunião de urgência. Ficava dando desculpas para a própria decepção.
Enquanto espera se olha no espelho, retoca a maquiagem e resolve trocar de novo, pois acha que a roupa não está adequada para situação.
8,
9,
- É, ele está atrasado.
O trânsito é um inimigo cruel quando quer.
10,
11,
-É melhor rever o batom, mudar de acessórios para parecer mais jovem, ele vai chegar, afinal, um atraso de 3 ou 4 horas é comum.
Meia noite,
uma hora da manhã,
uma caixa de bombom do lado, o sapato descansando do lado do sofá e do lado do telefone.
Não veio, não virá, deve ter sido algum compromisso de última hora ou o pneu furado.
Ela entenderia, sempre entendeu.
Não desmancha o visual, pois há uma remota chance dele ligar a qualquer instante. Adormece no sofá a espera.
Na manhã seguinte tem vontade de ligar, mas resolve esperar que ele ligue para não parecer cobrança, desespero.
Uma semana depois e nada de ligação. A
gora chega! Com a voz firme após o pequeno ensaio, com as mãos trêmulas disca o número que sabe de cor.
Do outro lado, uma voz rouca e sensual que tantas vezes a fez gemer atende num alô casual.
– Oi, tudo bem? Por que você não veio?
- Tínhamos um compromisso, quando?
- Na sexta à noite.
- Me desculpe, não estou lembrado, quem é você mesmo?
Tu tu tu tu tu
A ligação cai.
Rendida procura em si a culpa pelo o encontro não ter acontecido. Será que ela fez jogo duro demais, foi certinha demais, puta demais?
Ela haveria de saber a resposta.
Não estava nela, a culpa não era dela, e sim das circunstâncias ancestrais que envolvem o jogo de sedução entre homens e mulheres, onde as mulheres esperam muito, sonham demais e cobram por isso; os homens, são esperados, conseguem não se envolver sentimentalmente após uma transa de uma noite só e, mesmo quando apaixonados, não dão o braço a torcer.
Nesse mundo de desigualdades sexuais, não há vencidos ou vencedores, pois um dia o mundo gira, e o esperado homem tem que esperar, em sua espera, uma diferença, as mulheres esperam e dão uma segunda, terceira chance. Mas se ela o deixar esperando, é porque, com certeza, não irão voltar.
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