Olho para trás e a verdade parece-me menos sincera do que eu havia imaginado. Não é fácil ser a senhorita bem comportada, que eu, num esforço quase encenado, eu disse quase? Quis dizer encenado, tento ser.
Um tssunami implacável arrasa tudo dentro de mim, seguro pelo meu novo comportamento. Ela quer sair, extravasar suas águas, amedrontar com forma, enjaulado nada consegue. Minhas maneiras quase triviais, escondem o céu cinzento, o mar turvo, de águas torrenciais. É preciso, imprescindível. As circunstâncias me obrigaram a ser assim.
À noite, quando a maré sobe e se acalma, escondida pela penumbra, desço a cortina e a encenação faz uma pausa. Não posso tirar a maquiagem, imprevisível quando será o próximo ato; mas a expressão é minha, só minha. Os pensamentos, mesmo ditos em voz baixa, dão o tom às notas dos meus sentimentos.
Os olhos um pouco borrados, lágrimas fartas, e no espelho a face cansada. Sem sorrisos contidos, está lá: nua e crua, a atriz dorme. Explosão, e como numa catarata, jorra meus anseios. Cercearam o que mais amo: - minha liberdade.
Minhas roupas em tons sóbrios, em nada lembram o arco- íris antes desfilado. Menos decote, pouca ou nenhuma risada, um pudor adicionado as frases, era o que esperavam. O menos, o bem menos de quem sempre gostou do mais, do muito mais.
Não posso culpar, o livre arbítrio me deu opção de escolha. Achei que a fantasia agradaria mais, me daria a sensação de aceitação, me sentiria em casa, parte da família.
A filha do tempo com a tempestade enxuga as lágrimas fugidias, retoca a maquiagem, abre os olhos. Vê-se vestida de marrom, gestos singelos, no íntimo, sabe de cor o seu papel.
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