sábado, 3 de março de 2012

AMOR NÃO TEM COMPLEMENTOS


Sentada em frente ao computador, olhos perdidos, ela tentava entender a frase em negrito e aspas enviada no último minuto; "O amor é amor e ponto. Não tem complementos."
Ainda sentia a face úmida pelas lágrimas derramadas durante toda conversa. Ela passara os últimos anos tentando provar seu amor, entender seu amor, demonstrar, sentir e vivê-lo na vida real. Vivê-lo; como ela queria que aquele amor intenso, urgente, incondicional, passional saísse da tela do computador, ultrapassasse as barreiras da internet e se tornasse real. Ela o queria para si, precisava ser egoísta, a covardia a impediam de ser clara, de fazer a proposta para uma relação formal, com nome, sobrenome, com papéis distintos. O medo de perder o que já tinha, a impeliam de tomar  tal inciativa. 
Como ela desejou durante anos que a recíproca fosse verdadeira, que os momentos reais se prolongassem além dos "interneticos" (palavra talvez criada por ele). 
Agora um filme surgia paralelo àquele turbilhão de emoções. Relembrou o momento em que se encontraram pela primeira vez; da vergonha que sentiu pela transparência dos seus sentimentos revelados num único olhar. As faces rosadas pela vergonha, os olhos baixos para esconder o inevitável, afinal, a formalidade da situaçao a comprometiam. Melhor evitar. Evitou o quanto pôde. Não conseguiu.
Lembrou, relembrou, sentiu, o primeiro beijo, o tesão, a respiração, a urgência do abraço, o carinho. Toda aquela gama de sentimentos a invadiu de novo, na verdade, se tornaram parte indissoluta dela. 
Com o passar dos anos e pela convencionalidade, a relação tomou outras formas e durante anos, ficou relegada as conversas intermináveis pelo telefone e internet. Isso não a tornava fria como o esperado, tinha a mesma vivacidade. Essa distância a ajudava esconder as lágrimas de saudade, a raiva, as frustrações. Ela podia assim tentar esconder os desabores revelados parcialmente, então descobriu o ledo engano. Ele a conhecia muito bem, e todas aqueles artifices eram desnecessários. 
Ele já fazia parte dela como um órgão vital. 
Então como um clarão, entendeu. 
O que ela sentia por ele era amor. Simples, puro, sem definições, sem papéis pré estabelecidos, sem explicações, pedidos de desculpas, sem porquês intermitentes. Amor. 
Não era uma relação que os ligava, apenas uma sintonia pura, seu amor era responsável por ela. Uma convenção social, o dar nome aos bois, não caberia entre eles, não havia necessidade. 
E foi pela primeira vez, sem receios, que ela se abriu e mostrou tudo. Abriu o seu baú por completo. Não deixou vestígios subentendidos. Foi apenas ela. E como sempre ele estava ali, não perto onde um abraço fazia falta, onde ouvir a voz era um amenizante remedio para sua carência. Ele estava ali, dentro dela, ao seu alcance; estava onde sempre esteve e de onde, nunca a deixou sozinha.
Após tantos anos, tantos anseios, seu coraçao encontrou um lugar para aquele amor. Ele não precisava de recíproca pra existir, nem complementos, por isso era amor e ele sabia, isso é o que importava. Se acalmou, respirou fundo, e depois de tanto tempo, o seu " eu te amo", teve o sentido concreto, definido por ele num único arranjo de palavras. 
Estradas diferentes, sabia que vez ou outra seus caminhos se cruzariam, e ali, as palavras seriam desnecessárias. 
Afinal, amor é amor, não precisa de complementos....

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