Prisioneira do olhar ela ate quis se defender.
Atrás da sua máscara usual, desempenhou um dos seus papéis prediletos; era comum vestir-se de personagens, sua armadura infalível, pensava ela. Com uma postura imperiosa, ar displicente, conseguia passar incólume aos olhares de todos. Custara, mas aprendeu.
Foi costurando à sua, faces diferentes, cada uma com características próprias, tão diferentes da sua. Era tão boa nisso que já não sabia quem era de verdade: as faces que vestia ou as que estavam escondidas por baixo delas. Suas dores causa do choro compulsivo e dos olhos vermelhos, foram maquiadas de um humor sarcástico, ácido. Seus sonhos foram dissimulados em metas e objetivos frios e calculáveis.
Aos poucos foi se acostumando. Não se via mais desnuda. Evitava os espelhos. Só ela sabia o que seu reflexo significava, as histórias dolorosas que ele trazia. Tão convencida estava do seu talento teatral que subestimou aquele olhar. Bastou apenas um, e sua nudez veio à tona, ruborizando- a e constrangendo-a por se ver exposta contra à sua vontade.
Tanto tempo escondida e sua defesa caiu revelando a mulher que ela tinha medo de ser. O dono do olhar não tinha pretensões escusas e se havia segundas ou terceiras, até aquele momento ao menos, não estavam reveladas.
Então por que despí- la assim? Deixar evidente suas fraquezas sem que ela ao menos soubesse porquê? Essa seria uma pergunta que ela não saberia responder. Mas aquele olhar, prendeu em si seu reflexo nú e com ele todos os seus segredos e sua verdadeira identidade, sua história e seu coração.
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