sexta-feira, 6 de maio de 2011

Se fosse mãe



 Diário de uma Balzaquiana




    Daqui a dois dias vamos comemorar o dia das mães e acabo de brigar com a minha por um motivo pequeno, mas que pra ela é importante: eu voltar a frequentar a igreja.
  Fui criada na igreja evangelica, com direito a roupa de domingo, escola dominical, acampamento de jovens, alias, assim como fora minha mae e minha avó. Sou muito crente em Deus e adorava os domingos quando íamos a igreja, participava de todas as programações e na volta, aquele almoço com todo mundo reunido na casa da minha avó.
  Aliás, senti muita falta dela hoje, talvez menos do que vou sentir no domingo e bem menos do que minha mãe tem sentido. Se existe semelhança entre mim e minha mãe, posso afirmar que é o fato de nunca termos tido boa convivência e com a maturidade e distanciamentos, tentarmos melhorar isso.
  Minha família materna se destaca por suas matriarcas, de mulheres fortes, corajosas, guerreiras. Minha bisavó casou-se com um marido arranjado por minha tataravó e foi abandonada pelo marido com 9 filhos para criar; os educou e sustentou com seu trabalho de costureira. E no domingo, estava lá firme, elegante em seus trajes simples e seus filhos ao seu lado no primeiro banco da igreja. 
  Minha avó casou-se cedo com seu "príncipe" de olhos verdes, pobre mas muito bonito. Ajudou a cuidar dos irmãos. Em toda minha vida lembro-me bem de sua autoridade nos gestos e palavras, iniciativa, generosidade e sempre muito elegantemente trajada e perfumada. Até seu ultimo dia de vida, foi ela quem sempre socorreu irmãos, sobrinhos, filhos, genros e netos. Tinha um dom especial para abraçar os problemas alheios e resolvê-los. Foi uma mãe zelosa, firme, porém pouco carinhosa. E com minha mãe em particular, por ser a mais velha, rigorosa e cheia de cobranças.
  Passei a entender a relação das duas anos mais tarde. Minha mãe era a mais estudiosa dos filhos, vovó trabalhava muito para manter seus estudos em outra cidade e por isso as cobranças. Mamãe passou para medicina em uma federal, enchendo vovó de orgulho. Dois anos depois, conheceu meu pai, bom vivan, 4 anos mais moço, católico e de gestos rudes. Não era o que meus avós pretendiam para genro, foram contra o casamento. Mas não houve o que fazer, meus pais se casaram e minha mae largou a medicina para se tornar enfermeira. 
  Acho que vovó nunca entendeu isso. Mas foi a enfermeira que a ajudou na velhice, que a acolheu e realizou suas vontades. Vi poucas vezes um abraço ou um beijo entre as duas. Mas elas se entendiam do jeito delas.
  Certa noite, ano passado, minha mae teve pesadelos e vovó acordou de madrugada. Foi ate seu quarto, a cobriu, acalentou. Era a mãe leoa, carinhosa e zelosa cuidando da filha.
  Eu e minhas irmas crescemos convivendo pouco com minha mae, devido a sua jornada exaustiva de trabalho, que nos sustentou e educou. Assim como minha avó, ela sempre foi rígida, fria, mas presente nos momentos certos e provedora de todas as nossas necessidades. Nos deu uma educação tradicional e não fez mais por que não teve condições, já que sua vida pessoal com meu pai foi marcada por traições e enganos. Tivemos e ainda temos uma boa qualidade de vida e ela nos ajuda com o que pode.
  Somos tão diferentes e talvez por isso nossa relação seja marcada por brigas, ofensas, erros; da minha parte e da dela. ela nunca entendeu que eu tinha necessidades que o dinheiro não pode comprar, mas também cometi erros imperdoáveis na busca por sua atenção. 
  Me lembro que no dia das mães da escola eu participava das apresentações  e ela sempre estava lá, mas eu nunca tinha o abraço que minhas coleguinhas recebiam. Mas ela estava lá e apesar de nossos desencontros ela sempre esteve e sempre está.
  Se pudesse, teria agido de maneira diferente, teria lutado contra a minha natureza impulsiva e tentado ser a filha que ela queria. teria brigado menos, pedido mais desculpas, teria sido mais carinhosa, menos carente. Mas não se pode mudar o rio.   Hoje mais madura, mais consciente, vejo que não posso mudar o rio, mas muitas vezes, pode-se fazer um percusso diferente.
  Hoje a entendo como ninguém. Vejo minhas irmãs que agora são maes, cometendo alguns erros e acertos reflexos dos dela. Mas avó que minha mãe é parece mais amadurecida, o tempo a tornou mais terna, as perdas a deixou mais próxima de nós.
  Em programas de televisão vejo: Você só saberá o que é ser mãe quando for uma. A frase cheia de significados não é uma verdade absoluta; pois cada filho e cada mãe tem necessidades diferentes, nascidos em épocas diferentes. Então a mãe que você teve talvez não saberia lidar com a juventude de hoje, assim como a mãe que você é. Porém, numa coisa a frase está certa, dar origem a uma vida, é a sublimação do amor maior, e isso só uma mãe pode entender.
  Não posso mais ser mãe e entender esse amor e suas diferentes formas de demonstração. Um dia achei que seria. Mas compreendo como é grande o amor da minha mãe por mim, mesmo quando as adversidades nos contenda. Sei que ela me ama.
   Se fosse mãe, não sei se estaria sempre presente, certa, pedagógicamente correta, se não magoaria, se acertaria na escolha da escola ou dos conselhos dados. Se fosse mãe, gostaria de ter uma apostila que guiasse minhas ações para que meu filho ou filha se tornasse alguem digno e honesto como eu sou. Se eu fosse mãe, talvez a noite me sentisse culpada pelas brigas e tentaria me redimir no dia seguinte, ou me sentisse frustrada por não conseguir dar o melhor. 
        Se fosse mãe, se pudesse ser mãe, iria sentir o amor nascendo em mim, de mim e por mim. E esse amor, seria minha inspiração para viver!

3 comentários:

e agora josé...taquinho disse...

Continuação:
Só para finalizar, não considere esse comentário como bronca, e sim como trocas de experiências. Afinal, estamos sempre aprendendo né?
Continue postando, amo viajar nas tuas postagens, um refrigério para mim. ps.: semana que vem volto a postar.bjo no coração. by, Taquinho.

e agora josé...taquinho disse...

A maternidade é um dom dado por Deus.
Talvez por isso ele escolheu a mulher para exercer esse dom.
Um ser delicado, sensível e provida de uma intuição que só a maternidade pode explicar.(Salve as mulheres).
Fiquei feliz, por vc expor em seu blog, um pouco da sua historia. Relatando seus conflitos suas diferenças seus grilos e ais. (achei muita coragem).
Mas fiquei mais feliz ainda, em saber que vc superou, se não todos, pelo menos boa parte deles.Isso é sinal de crescimento e maturidade.
Nem sempre temos a mãe que queremos. Nem sempre aquela nossa heroína, esta apta a nos defender assim como nos queríamos que fosse.Nem sempre somos o filho desejado, que vemos nos filmes, na casa do vizinho, até mesmo na própria família. Isso talvez nos deixa um pouco frustrados; Mas acima de tudo, ela ainda é nossa mãe.
AGORA VAMOS REFLETIR UM POUCO SOBRE ELAS:
Será que algum dia paramos e nos perguntamos como foi a sua criação?
Eu particularmente já.E a experiência foi surpreendente para mim, ao ponto de ficar com vergonha de mim mesmo,em ver o quanto fui egocêntrico em querer sua atenção voltada só pra mim, sem importar qual problema (que não eram poucos), ela passava todos os dias. Era a mãe má!... Hà se eu pudesse rebobinar a fita, faria muita coisa diferente como faria.
Eu tive a minha ANTÔNIA, quem a conheceu dispensa comentários.
Você tem a sua MÁRCIA, valorize-a, pessoa impar na sua forma de amar, principalmente por tudo que passou e passa.

Sara Santos disse...

Gracinha amiga...
Texto lindo!!

Bj,AMO VC!