domingo, 29 de dezembro de 2024

Tenho medo do silêncio

 Tenho medo do silêncio 

Porque nele habita meu medo

Ressoa meu horror

Ecoa o que me aflige


Tenho medo do silêncio 

Nele escuto meu descompasso

Um coração com arritmia 

A respiração acelerada


Tenho medo do silêncio 

Meus pesadelos se tornam reais

E eu atemorizada

Sucumbida pela força descomunal desse medo


Tenho medo do silêncio 

Me aflige o nada

A ausência de som

Que tranca e me algema a ele


Tenho medo do silêncio 

Esse fantasmagórico ser e nada

Que atrofia minha coragem e ausência dela


Tenho medo do silêncio 

Me calei tempo demais

terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Rios

Somos dois rios

Um que é corrente 

Um que é calmo 

Um que deságua no mar

Um que pequeno percorre longos caminhos

Um é para viagens épicas

Um para pescaria 

Um que é cheio de pedras

Um que é profundo e sombrio

E nesse ir e vir de águas 

Um dia se cruzaram 

E pensaram que o amor os faria um rio só

Grande, forte, irrepresavel 

Mas eram diferentes

Um quis represar o outro

O outro não pode conter a correnteza 

E voltaram a ser rios 

segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Sorriso guardado

Tenho um sorriso guardado
Numa caixinha vermelha
Um laço dourado
Um pouco perfumado

Tenho um sorriso guardado
Daqueles bem largos
Fáceis
Afetuoso
Raro

Tenho um sorriso guardado
E num daqueles dias bonitos 
Ei de oferta lo a alguém
Como quem dá um presente caro

Tenho um sorriso guardado
Cheio de carinho
Vermelho


É natal

quarta-feira, 19 de junho de 2024

Como dói amar

 Como dói amar quem não ama

Como dói amar quem não entende

Como dói amar quem não enxerga

Como dói amar sem querer

Como dói amar quem não acredita

Como dói amar quem não vê 

Como dói amar quem não liga

Como dói amar quem não se comove

Como dói amar

O sol brilha ainda que chova.

A fina lâmina da indiferença corta com sutileza o ser desprezado. Sentenciado ao implorar, é ridícula sua condição miserável de apaixonado

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Dualidade

Que frieza esse olhar
De quem não quer e despreza
Antes não olhasse
Que tristeza esse gostar
De quem ama e não se importa
De não ser amado
Que desilusão esse sentir 
Esse pedir
Implorar
Do que sabe jamais será seu
Que maldade esse odiar 
A quem só doou amor 
Entre dar e receber
Reciprocidade nunca foi uma escolha

quarta-feira, 1 de maio de 2024

Morrer

 E se eu escolhesse morrer

Covardia

Desistência 

Medo

Tanto faz

E se eu escolhesse morrer

O que você faria

Nunca fez

O que você diria

Calou

E se eu escolhesse morrer

Quem sentiria

Um dia

Uma semana

Um mês 

Passou

Esqueceu 

E se eu escolhesse morrer

A quem avisaria

E quem me impediria

Nunca impediu

Não se importou

E se eu escolhesse morrer

A quem eu pediria

Um último abraço

Um beijo

Um aperto de mão

Não!

Agora tanto faz

Nem mesmo a morte importa

A tortura de viver é um castigo pior

E quem diria

Entre escolher morreu

Preferiu padecer


quinta-feira, 25 de abril de 2024

Não mais.

 Adeus! 

A palavra entrecortada saiu da sua boca mas dilacerou sua alma. Tamanha dor, um dia fatalmente teria que desaguar. 

E secou.

 Aquele amor intenso, tão cheio de lascívia, medo e carinho dissolveu se em frieza, julgamento, antipatia.

Ela não sabia, amava solitária. 

E em sua ânsia por tanto amar, considerava parte do amor não exigir nada em troca. Porém muitas vezes, ele foi declarado a ela também. Mentira? Piedade?

O pouco de dignidade que lhe restava, recolheu aos cacos junto ao seu amor próprio, auto estima, auto piedade. Não seria vítima do seu algoz predileto, o amor, mas se entregou a velha amiga, a desesperança.

Deixou de acreditar que pudesse ser amada. Tornou-se volúvel, fechou se em copas. Sabia como manejar as cartas, nunca soube jogar com os sentimentos. 

E.n.d.u.r.e.c.e.u 

Murchou

O riso carmim ficou nude sem graça

Sarcástico 

E dentro dela, a esperança sua força motriz virou cinza como seus dias.

Disse Adeus

Essa seria a última vez que se humilharia por migalhas de afeto. 

O implorar a fazia sangrar.

E de sangrar sucumbiu.

Morta viva já nao sentiria mais. 

Não mais.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

Foi

 Eu quando foi que entendi

Que você nunca quis 

Fazer parte desse mundo

Que inventei ?

Você nunca quis ser

Parte do todo que te ofereci

E eu insisti em não ver 

Mas meu amor era por nós dois

Eu cega ...

Infeliz do que vê pelos olhos da paixão

Que destrói mundo

Que dilacera vida

Quando eu sentir saudade que eu me lembre o porquê me quebrei

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

Anjo sem asas

 Havia um anjo. Desses de olhar sereno, voz calma, asas alvas como a neve. Um anjo brincalhão, adorava sorrir, abraçar e ajudar pessoas. Se alimentava de sorrir e fazer sorrir. Não dormia. Gostava de sonhar. E era feliz assim. Pra que tanto sorriso? Pra quê ajudar, anjo bobinho?!? Ele

 sorria feito criança e logo saia para socorrer alguém, brincar ou abraçar. 

Certo dia não conseguiu salvar e chorou. Quis ajudar não foi suficiente argumentaram. Foi lá e fez. Não é desse jeito gritou alguém. A medida que ia ouvindo essas coisas parou de sorrir. A cada decepção diminuía a vontade de voar e suas asas foram perdendo as penas. Já não voava e andava com dificuldade mas insistia em ajudar. Um dia, alguém irritado com sua bondade lhe cortou o restante das asas, colou seus lábios e amarrou seus braços. Sua vida se esvaiu com as lágrimas. A tristeza o transformou em pedra. Então não incomodou mais ninguém. 


Isso não é sobre anjos.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

Verdade

 Olhou em seus olhos e viu neles a verdade

Não a dele, refletida como letreiro. A dela.

Uma cruel realidade escondida por sua ilusão. 

Como quem sente um abismo abrir ao seus pés ela desabou. Inerte.

A verdade era sua inimiga mais fria. 

Em sua arrogância acreditava que viver iludida por uma paixão platônica e idealizadora seria mais fácil, quase lúdica. 

Não pôde suportar e sucumbiu. 


domingo, 14 de janeiro de 2024

Aos que me negaram ajuda

Ajudar ao próximo seja quem for, é acolher, abraçar, dar as mãos, um abraço, um consolo, um ouvir, um falar, uma bronca, orientação e até mesmo não atrapalhando. É a empatia de quem o tem e está disposto a ofertar. 

É a resiliência de quem não pode mas compartilha o pouco que tem.

É a doação de quem não a tem mas doa por amor.

Ser disposto a ajudar é entender a necessidade do outro e muitas vezes, ainda que em dissonância, ajudar, de uma forma ou de outra. 

Ao não ajudar, rejeita se ao necessitado algo que lhe pode ser vital.

Ao negar ajuda, renega se ao outro a oportunidade de ter.

E o outro, ao não receber, cabe também a empatia do ajudar, na forma de aceitar ou compreender o outro em sua fraqueza, em sua falta, e não julgar.

Difícil. A necessidade nos faz carente. A falta nos faz ansiosos o gostar nos deixa frustrados. A frustração vem de esperarmos do outro aquilo que nem sempre ele terá ou irá querer dar.

Que eu seja grata aos que me viraram as costas, aos que não me ouviram, aos que me julgaram, me prejudicaram, não me abraçaram ou simplesmente não me ajudaram. 

Assim, em minha necessidade, estou aprendendo a dar, doar, ofertar àqueles que também precisam como eu. Em minha falta estou encontrando presenças, mãos e braços estendidos e apoio, sentimentos que transbordam de onde eu menos esperava. Aos poucos vou aprendendo a sentir saudade sem desejar a presença, vou guardando lembranças mas não volto a lugares onde não me cabem mais. Vou me tornando generosa na escassez presente na ausência e transbordando amor no vazio. A vida segue e pelo caminho vou apertando mãos e me aquecendo nós abraços, sorrindo com palavras e gestos gentis. E agradecida por não tem ajuda de onde esperei, pois tornou mais belas ainda as ações que vieram de onde eu nem esperava que existissem

quarta-feira, 3 de janeiro de 2024

Corações desiguais

E quando a distância se interpõe
Entre nós e nossos "se's"
Poderia ser mais fácil
Mas preferimos o talvez 

Se tento te decifrar me perco 
Nessa mania de fugir
Minha e sua 
Covardes desiguais
Vontades iguais

Colidimos entre razão e desejo
 O meu, eu te ofereço
O seu, nem sei se existe
E essa duvida nos afasta ainda mais
Dois corações desiguais