Querida mãe;
Escrevo sem saber quando entregarei a carta ou se você lerá esse desabafo. Tenho meu próprio tempo, mesmo quando não sei como aproveitá-lo.
Passei os últimos anos da minha vida na estrada, procurando me estabelecer como profissional, como pessoa e mulher. A cada km rodado, uma busca frenética pela realização profissional, social e pessoal, deixando para trás o passado, a família e os amigos, e muitos sonhos.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensam, nunca deixei para trás a saudade. Ela foi minha grande e única companhia e hoje, minha eterna companheira.
Mas a tristeza se faz presente em forma de lembranças; cada uma delas acompanhada de lágrima de dor, muita dor.
Me esforço já quase sem forças, para que as lembranças dos bons momentos sejam mais vivas que as dos maus, no entanto as feridas deixadas não cicatrizaram totalmente, e os bons momentos consolam e amenizam as dores deixadas com elas.
Quando foi que todo mal se instalou?Onde foi que erramos pela primeira vez? Qual foi nossa parcela de culpa? São perguntas cuja as respostas não sei ao certo...
Muitas vezes quando a solidão foi mais forte que eu, me lembrava dos almoços de domingo na casa da vovó Elisa, após a escola dominical. Conversa alta, bagunça, os corinhos, e todos juntos.
Também me apego às recordações das viagens ao Bisnau, nossa predileta por vários motivos: pelo encontro com meu pai, comida da vovó, história do vovô, bacia de alumínio na hora do banho, água esquentada, lamparina, pamonha, seu medo de sapo...
Porque tudo mudou?Porque não pode mais ser como antes?
Porque não posso voltar atrás num tempo em que ao menos eu acreditava ser feliz.
Sei dos incontáveis erros que cometi, alguns deles imperdoáveis. Alguns porque quis, outros sem querer ou perceber, outros para os quais não tenho explicação.
Quem nunca errou?
Tantas vezes fui julgada , criticada, apedrejada; tantas vezes fiz a mesma coisa.
Sempre lutei muito para unir a família em todos os bons e maus momentos, e hoje, sinto-me impotente frustada por não conseguir.
Na trilogia do tempo tenho ficado para trás. Cada um da nossa família parece ter encontrado e seguido seu caminho e criou raizes. E eu?
Como folhas de outono, fico perdida no vento ao sabor do tempo.
Não sou a mulher, a filha, a irma, a enfermeira, a amiga que todos queriam que eu fosse. Sou apenas eu, com todos os meus defeitos e algumas qualidades. Ser feliz hoje, me parece um sonho muito distante de mim.
Mesmo longe amo você e minha familia, e mesmo distante vocês são parte do que eu sou
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