segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Declaração não declarada





Tomou um banho demorado, a fragancia do sabonete contornou seu corpo impregnando-o. Os cabelos cheirando a shampu, caià-lhe valsadamente os ombros nus, quase artísticamente emoldurados.
Não se preocupou em enxugar-se. Apenas foi abrançando a toalha macia, como se esse ritual fosse sua rotina. Há tempos não se sentia assim, com essa vontade de ser bonita, de estar bonita pra si mesma.
Olhou-se nua no espelho. As formas acentuadamente arredondadas, mesmo que a seu contragosto, eram delicadas até onde poderiam ser, deixam-na graciosa sem dúvida. As marcas de expressão poucas ainda, são como mapas desenhados pelos inumeros caminhos que percorreu e as dores e alegrias que nele ficaram impressos. O seria necessário redesenhar?
Não, preferia assim, apagar esses traços agora, seria deixar para trás parte da sua história. Não lhe parece mal, quase simpatica, diria bonita até. No mais, nada que um corretivo, base, po, blush, sombra, rimel, lapis não realcem a sua beleza natural, ao menos é isso que diz na propaganda de cada um deles.
Foi conferindo detalhe a detalhe na outra ali na sua frente. Não tinha percebido a graça que a idade confere às mulheres. A mesma idade, que ate poucos dias desconjurava por render-lhe quilos a mais, rugas a mais, preocupações a mais. Sim estava charmosa.
Todas suas roupas, sapatos e bijouterias esparramados pela cama, e nenhuma escolha. Conferiu as horas, só tinha 15 minutos. Detesta atrasos, mesmo sendo ele perdoado às mulheres.
Partiu para o óbvio, o pretinho básico. Básico? Como assim? Quem não tem um mínimo de vaidade sabe que um pretinho básico tem inúmeras variações de acordo com as primeiras, segundas e as inúmeras intenções.
Escolheu um displicente, um decote, e mais nenhuma informação. E os sapatos, salto bem alto, lhe dariam a confiança restante.
Ha anos esperava esse reencontro, adiado, adiado, readiado, odiado, adiado.
Seu anseio por ele, sua vontade e desejo, tinham mudado conforme os anos, e já não sabia mais o que sentir.
Mãos trêmulas... Àquela altura do campeonato não lhe caía bem essas inseguranças juvenis, mas era assim que se sentia; como uma adolescente à espera o primeiro encontro, com o moço-mais-bonito-popular-da-escola.
A voz do outro lado era sua velha conhecida e povoou seu sonhos tantas vezes que ela nem poderia contar. Desde os sonhos mais eróticos aos pesadelos mais assombrosos.
Mas independente disso, a sensação que essa voz despertava, era suave, familiar, aconchegante.
Deu o primeiro passo, olhou antes, quis desenhar na memória subconsciente cada flash daquele momento mágico, pois jamais esqueceria, e a sensação, bem, a sensação era de uma despedida imenente.
Ao entrelaçar dos braços, recostou-se ao ombro e sentiu um calor tão seu conhecido, tão íntimo como os segredos guardados pra si. não quis soltar. Quis parar o tempo
Quis parar o tempo ali naquele instante.
Ouvia as palavras, pronunciava algumas mas seu pensamento estava longe dali.
Um filme era o que via, com trilha sonora melódica, urgente, ouvia, via, mas na sua frente so o filme era projetado, e os protagonistas estavam ali.
Relembrou o primeiro olhar, o desejo inocente e o proíbido. A luta anterior por nao desejar aquilo que não poderia ser seu, o desejo que a consumia. Melhor cativar como amiga. Nao era verdadeira nos gestos ou palavras, por mais que tentasse e ele sabia disso.
Os anos aumentaram a admiração, o desejo tomou forma e contornos, suores, expressões, imediata vontade de extravasar num beijo o que lhe queimava por dentro.
Culpa, revolta, desejo, paixao,amizade,carinho,cuidado, atenção,remorso, e outras sensações que não seriam expressas em palavras. Uma a uma sentidas em sua intensidade.
Segredos seus, ocultos na alma,semi revelados no olhar, mas guardados.
Jamais saberia o quanto ela o amou, ama; até onde um dia esse sentimento se esvaísse naturalmente, como água fluída correndo em direção a correnteza.
Ele não saberia entender, não compreenderia como ela poderia ama-lo em meio a tantas diferenças, como um Canion a separa-los.
Ele razão, frieza disfarçada, comedido,coeso, indiferente,senhor de suas vontades, cheio de medos não admitidos.
Ela emoção, entrega, carinho, romantismo piegas, infantil, incoerente, intensa, apaixonada, cheia de medos admitidos e com urgencia em dar seu amor.
Não, indubitavelmente ele não entenderia como ela conseguia ama-lo a distancia de tempo, razão, circunstância, incoerencia, e principalmente sem recíproca.
Beijos, abraços, afagos. Ela velou seu sono sem conseguir se entregar totalmente.
Controlava suas emoções ou elas revelariam seu segredo. foi quase atriz. Ele não entendeu.
Auto controle não era sua primazia, mas ela tentou.
E o mistério continuaria disfarçado de amizade.
A seu favor ela tinha o excesso de confiança dele, que não o deixariam jamais desconfiar de suas intenções.
Ficou ali horas, olhando cada contorno, desenhando com as pontas dos dedos, como se o tato esculpisse em sua memória o que jamais conseguiria esquecer mesmo que quisesse.
Ele nao entendeu.
Um dia, quando o amor silenciasse ou se fundisse naturalmente a sua história, ela contaria. Ou talvez nem precisasse. Porque o tempo, se encarregaria de tornar tarde demais. E mesmo que restasse alguma esperança, o compromisso firmado de ser amiga leal e fiel a impediria de tomar qualquer outra decisão.
Mas essa noite, ela pôs em cada beijo, cada toque, cada minúncia sua, o amor a ele dedicado. Aos menos em segredo, ela teria um dos seus sonhos realizados.
Um dia talvez ele acorde e se dê conta de que ela o ama, incondicionalmente e apesar dos apesares....

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A pecadora

Ela queria pecar.
Sentiu pela primeira vez o gosto do pecado na seiva doce de outros lábios que não os do seu dono. Estremeceu.
Sentiu borbulhar as lavas quentes do vulcão ocultos em si.
O desejo e o gozo inesperado. As mãos trêmulas. O suor impregnado de lascivia no seu corpo. Agora tocado por outro.
Era o pecado. 
Tinha ouvido falar tanto dele, essa vocação terna pelo proibido, o socialmente condenavel.
Ha muito não se sentia assim.
Leve, calma, capaz, sem aquele imediatismo do compromisso, sem a obrigação de ser perfeita.
Sentiu
Desejou
Comandou
Pediu
Despiu
Beijou com desespero
Desejou o sexo e o teve
Gozou como nunca
Pecou
Estava se acostumando a pecar...
A noite, ao lado do seu compromisso frio, da relação desgastada, da falta de amor e de vontade, cumpriria seu papel. Seu sorriso seria sarcástico, seu olhar compadecido.
O pecado lhe daria a paixão. A sensatez a impediria de fugir dali

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

caixa preta

Uma caixa preta
Lacrada
Muito bem lacrada
Correntes e senhas
Chaves escondidas
Vez ou outra deixava uma palavra sair
Colhida como fruta temporã
Sorriso entre segredos
Ocultos na alma
Aqueles sentimentos
Achava-se perdido
Queria passar incólume
Desapercebido
Um papel de um jovem aprendiz
A arte de dissimular
Momentos que guardou pra si
Achou melhor não pular
Esperavam-no do outro lado do rio
A água estava fria
Não quis pular
O calor desconhecido aguardava seu frio
Melhor assim
A distancia aparente era sua proteção
Um ator de um só papel
Se descobria palavras soltas
Já não estava tão seguro
Melhor não arriscar
Uma caixa preta
Lacrada, sacramentada
Esperava poder afrouxar as amarras
Desligado, não percebeu
Não eram tantos segredos assim
A caixa transbordava
E deixou escapar um sorriso
E tudo ficou iluminado

Baseado em fatos reais... te que um dia esses segredos sejam revelados

presente em mim

Próximo
Mesmo ainda que distantes
Não conseguiria ficar tão longe assim
Esta tão vivo dentro de mim
Como sempre esteve
Porque nunca houve partida
E nada mais importa.
Vou vivendo assim
È a melhor maneira
Sem esquecimentos
Sem Adeus
Sem partidas
Sem retornos
Não importa
Esta aqui agora
Mesmo quando esta distante
Indo e vindo
Cada volta é um novo recomeço
Há sempre porquê recomeçar
Um dia novo
A vida que se transforma
Simplesmente por estar aqui
Por que faz parte de mim
A estrada é mais bonita
O caminhar muito mais fácil
Sua presença me da essa sustentação
È o que importa
Sem distancias
Sem partidas
Sem retornos
Simplesmente porque estar aqui
Não importa o que pensam
O que falam
O que pensam
Você é importante
Você estar aqui
Nada mais importa
Você trás o alento
A vontade
A vida
O desejo
O anseio
O meu melhor

Ainda estou viva?


Pensamentos em pedaços
Estilhaços de espelho por todos os lados
Escondida entre medos, acertos e erros
Essa indiferença dói menos
A rejeição é um pesadelo repetitivo
Entre grades de uma prisão
Feita de anseios
Feita de horror
Feita de muita
E inquietante dor
A morte me cái tão bem
Seu vestido adere aos meus contornos
Não há o que posso fazer
A liberdade não é uma concessão
Cair é rotina
Mesmo quando tento ficar em pé
A fragilidade dos ossos não sustenta
Não há suporte para uma alma pesada
Insone
Indigente
Consumida em chagas
Tomada pela dor
A tristeza é fiel companheira

Ainda vivo
Não havia percebido
Tão acostumada à inércia
Não tenho para onde ir
Melhor ficar aqui
Nem sempre é tão frio
A loucura vem hora ou outra me visitar
Desvaneio em passos largos
Rodopio em valsa deprimente
A insensatez me faz dançar sozinha
Louca
Completamente Louca
Ainda viva
Quase nem percebo
Aqui nesse jazigo frio
Onde as flores são mortas
A água tem sabor amargo
Estou amarga também
A loucura me alimenta
Me sacia
Enquanto a morte me rodeia
E esse frio se torna quase insuportavel
Ainda estou viva?
Não tinha tamanha pretensão
Bastava-me ficar quieta
Não conseguem mesmo escutar meus gritos
Louca
Louca
A insana arte eu pinto em preto
Nuances fortes e traços leves
Percebo que os vultos sou eu
Foram traçados por mim
Louca
A loucura me dominou
Nem me lembrou se fui sã
A insanidade dissipou minha memória
Essa tragicomédia Nelsonrodriguiana
È digna de certo louvor
Já que aqui, não há aclamação
Ainda estou viva?
Achei que essa embriagues fosse a vida se esvaindo em gotas púpuras
Estou flutuando
Louca
Louca
De repente grito
Fico mais leve
A morte contorna minha silhueta
A sombra reflete na parede nua
Sim, aqueles traços são meus
Contam histórias que ninguém quis ouvir
Os estilhaços da minha alma
Foram quebrados de propósito
Era tênue taça
Ficou em pedaços
Assim como meus pensamentos
Mas, ainda estou viva?
Não sou sair daqui
Louca
Louca
Dou risada da morte me vigiando
Eu nem tenho medo dela
Porque foge de mim?
Pensei que fôssemos amigas
Estou agarrada às grades
Presa
Louca
Essa vontade retesada de me libertar
A morte me sugiga e tortura
Prefere me ver dispersa em pesadelos
Ri da face banhada em lágrimas de sangue
Refletidas nos pedaços espalhados pelo chão
Ainda estou viva?
Por quanto tempo?

Basta voce querer

Abraça-me num entrelaçar de braços que não desatam
Peça que eu fique aqui 
Queira, 
Deseje, 
Anseie que eu fique
Entrelaça-me como a me prender sem algemas
Não queira que eu parta
Precise que eu fique
Não vá dormi sozinho
Não quero invadir seu espaço
Não vou dividir estilhaços 
Apenas basta que você queira
Precise que eu fique aqui
Seus olhos são meu cárcere
Seu beijo as chaves dessa prisão
Não fique na porta 
Como se quisesse me ver partir
Basta que você queira
Precise que eu fique 

A noite se esvai com as horas
O vinho secou na taça
Esse é o momento
Peça antes que eu vá embora
Antes que eu feche par sempre essa porta
Que sempre esteve aberta pra você
Pense no que eu faria longe daqui
Reconheça: te faço tão bem
Precise que eu fique
Sinto que é chegada a hora
Ainda há tempo de recomeçar
Basta que não sejam quebrados os laços
Não me deixe partir
Eu ainda quero estar aqui
Ver você adormecer 
Serenar suas angústias nas minhas
Calar sua voz no meu silêncio
Matar sua sede num beijo meu
Antes que o sol nos abençoe
Precise que eu fique
Estou esperando 
Mas posso partir se quiser
Precise que eu fique
Eu preciso de você
Sinto nossos nós desatarem
Os laços estão frouxos
Será o momento do Adeus?
Precise que eu fique 
Antes que eu decida partir
Meus passos vão devagar...

Sem mapa

Não tenho planos arquitetados
Não há esquemas prontos
Linhas tão bem planejadas
Tão pouco esperanças em desenho
Sonhos riscados em nanquim
Não há nada em minhas mãos
Não há trajetos bussolados
Falta um roteiro
Tempo desperdiçado
Ou medidas matemáticas
Felicidade é uma estrada sem mapa
Nada à prever
Somas e divisões mal arranjadas
E o caminho perdido à ser encontrado
Construção mal acabada
Construção nem começada
Onde encontrar o mapa?

domingo, 7 de novembro de 2010

Tudo passa

Chico Xavier costumava ter em cima de sua cama uma placa escrita:"Isso também vai passar!" 
Então perguntaram a ele o porquê disso... Ele disse que era para que quando estivesse passando por momentos ruins, se lembrar de que eles iriam embora, que iriam passar, e que ele estava vivendo isso por algum motivo. 
Mas essa placa também era para lembrá-lo de que quando estivesse muito feliz, não deveria deixar tudo para trás e se deixar levar, porque esses momentos também iriam passar e momentos difíceis viriam novamente. 
É exatamente disso que a vida é feita, momentos. Momentos que TEMOS que passar, sendo bons ou não, para o nosso próprio aprendizado. Nunca esquecendo do mais importante: Nada nessa vida é por Acaso.

encontro virtual

alguém que a tela esconde
alguem que a tela revela
Não importa quem é
O que é
Quem será
O que faz 
nem seu peso 
nem sua cor.
idade,
pobreza,
prosperidade,
o jeito de vestir,
de falar, 
escrever, 
cantar
sorrir.

Importa como pensa,
o carinho que me dispensa
o sonhos mesmo que não declarados
se posso e como posso lhe ajudar
a mágoa, rancor, alegria, insensatez
e a sua dor de agora

Importa sua lágrima secar
o seu riso partilhar, imaginar, tentar sentir
seu problema ouvir , 
aceitar as diferenças
fazer diferença