terça-feira, 2 de novembro de 2010

Revirando gavetas

Quando minha avó morreu, o pastor comentou que de nada adianta ficarmos preocupados com o hoje ou amanha, com as coisas supérfluas da vida, pois morremos e tudo fica para trás, e, ate aquela gaveta que vc nao deixava ninguem mexer, vão acabar mexendo e vc nao vai poder fazer nada.
Fiquei pensando nisso durante dias. Pensando nas minhas coisas e nos segredos guardados entre elas.
Hoje, apos um temporal, a mala de documentos da minha avó amanheceu encharcada, e nos vimos obrigados a abri-la, revira-la para jogar fora o que nao prestava mais.
As filhas reunidas, alguns netos e bisnetos, todos juntos na mesma tarefa. Muitos eram papéis sem importancia, propaganda, livretos, documentos vencidos; outras, certidoes de obito de irmaos, dos meus bisavos, recados dos netos, convites de formatura, provinhas nossas de quando crianças, cartões.
Vi nos olhos e nas maos tremulas ora de um, ora de outro, que a saudade figurava-se em cada um daqueles papéis, pra nós tão insignificantes, mas que pra vovó eram tesouros, ja que ela os guardava com tamanho cuidado.
Pensei novamente em mim e nas coisas que guardo. Nas lembranças, nos segredos, no que é realmente importante. Sera que guardo tudo o que preciso guardar?
Sera que preciso revirar minhas gavetas antes que outros o façam por mim?
Ainda ha tempo de revira-las, jogar fora o que me faz mal, as lembranças ruins, mágoas, decepções.
Nas singelas e pequenas coisas, recordar o que me faz bem e amenizar a saudade.
Mesmo nao sendo facil, revirar as gavetas da alma, é organizar os proprios sentimentos.

Nenhum comentário: