Beleza
FEIOSA FEIOSA FEIOSA!
Ainda posso ouvir os gritos e as gargalhadas dos coleguinhas da minha sala ainda nas primeiras séries. Me encolhia toda, sentia vergonha, mas naquela idade, não sabia me defender, nem minha inocência fazia ideia da crueldade que pode existir em alguem, mesmo na infância.
Não era a mais feia e estava longe de ser bonita. lembro-me bem que compartilhava com minha amiga Brisa (ela tinha um problema dermatológico no pescoço, órfã criada pela avó) desses xingamentos. Muitas vezes choramos juntas.
Eu parecida gostar de sofrer, pois convivia a maior parte do tempo com as meninas mais bonitas . De duas uma: ou eu tinha prazer sádico em ver minha feiura realçada ou me sentia privilegiada por andar com as meninas mais populares. Quem quiser entender essa minha idiotice infantil, basta assistir a esses besteirois americanos, sempre tem uma linda, loira magra, popular, cercada de CDFs feiosas e desengonçadas.
Quantas vezes chorei no banheiro, chegava em casa arrasada e ninguém percebia, nunca perguntaram. E família é sempre importante para te lembrar que o que é ruim, pode sim piorar, em casa ouvia comentários sarcásticos e cruéis também.
E como esquecer os parentes, esses também foram parte importante desse contexto, já que minhas bondosas primas me excluiam e me lembravam da minha aparência menos "favorecida".
Quanto tempo durou essa fase?
Pois eu conto sem pestanejar:
- Até a faculdade
Claro, todo esse ataque a minha auto estima passou por diferentes períodos, até porque com meu desenvolvimento aprendi a me defender ou a usar outros atributos pra chamar a atenção. Mas o "feiosa, boboca" passou de gritos e risadas para comentarios maldosos, sussurros em corredores ou cartinhas maliciosas.
Ahhh alguém quer saber porque escrever sobre isso hoje?
Será que não superei isso?
Posso ate ver um ou dois cartões de um bom analista sendo-me oferecidos por alguns mais compadecidos.
A resposta é muito simples, tenho sido atormentada por alguns fantasmas do passado e esse, é um deles. Já não provoca tanto medo como antes, posso até dizer que me adaptei a ele, mas a questão é que, hoje ele se manifestou através de fotografias antigas.
Em tempos de siglas de significados catalogados, o que antes eram simples apelidos hoje é chamado de bulling. No fundo, a mudança de nome não mudou os estragos que passar por isso pode fazer na auto estima de alguém e por consequência em sua vida, nas suas atitudes.
Não foi mais fácil na primeira série do que no primeiro colegial. Se me olhar por alguns minutos no espelho, vou enxergar as minhas faces e fases e todas as vezes em que me olhei e desejei ser outra pessoa; ser mais bonita, mais encantadora, ser popular.
Vou me lembrar de todos os príncipes encantados que não me olhavam, de todas as paixões não vividas, de todas as esperanças perdidas. Simplesmente pelo medo da não aceitação ou de não me achar "tão bela", tão capaz de conquistar alguém.
E não fui mesmo, encarar a realidade é difícil.
Que atire a primeira pedra a mulher que não desejou ser mais alta, mais magra, ter cabelos de propaganda de shampu. Ser Xuxa, Luisa Brunet, Giseles, Anas Hickmans, Arósios. Que tenha a coragem de admitir que paga uma fortuna para, ao menos, ficar "melhorzinha".
Essa coisa de amor próprio, caráter, beleza interior determina quem você é e como você vai viver, mas, na hora da conquista, do olho no olho, não adianta ser hipócrita, Vinícius sabia o que dizia:
Me desculpe os feios, mas beleza é fundamental.
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