Há muito tempo não escrevo; talvez seja a falta de inspiração ou o próprio medo de ser repetitiva. Mas hoje, dia dos pais, não teve jeito, acordei nostálgica.
Me lembrei de quando era criança e acordava com a voz grave do meu pai me chamando para ir comprar pão. Ele nunca estava em casa por causa do trabalho, e se estava, para mim e minhas irmãs era o momento de ter nossas vontades infantis satisfeitas.
Carinhoso, brincalhão, atencioso, esse é o pai do qual me lembro. Do homem forte que abraçava, que nos levava para pescaria, ao clube, para jantar fora. Ainda é firme nas minhas lembranças a minha saudade, a minha admiração, o meu amor do qual hoje, parece restar tão pouco.
Todo mundo dizia que éramos parecidos, quando criança isso fazia algum significado, hoje é quase uma ofensa.
Nossa ligação foi se perdendo em meio a gritos, violência, acusações, cobranças, culpas, alcoolismo; brigas intermináveis que deixaram em mim feridas ora cicatrizadas ora abertas em chagas que ainda doem muito.
Discorrer quem foi mais ou menos culpado na nossa história seria inútil, agora é tarde demais para tentar reparar danos que o tempo tratou de torna-los irreparaveis.
Com passar dos anos, meus avós foram ocupando um espaço antes dedicado a um só homem e passei a ver neles a figura de pai que eu havia perdido. Não que eu não os admirasse e amasse, mas eles se tornaram peças fundamentais na construção do meu caráter.
Meu avô Marcides por estar mais perto, foi um grande responsável pela adulta que eu sou. Com sua integridade, honestidade e carisma, me mostraram que eu devia ser mais humilde e assim conquistar as pessoas pelo que eu sou. Ainda busco muito da simplicidade dele e claro, da sua maneira de achar graça e tudo, em qualquer ocasião. Num dia como hoje, não tê-lo aqui será ainda mais difícil.
Do meu avô Leônidas eu tenho muito, idealista, sonhador, leitor assíduo, dedicado, entregue, essa sou eu, sua versão feminina. Não tenho a pretensão de ser como ele, mas o que herdei, faz e mim uma pessoa melhor. Sempre que posso, apesar da distância estou com ele, ouvindo suas histórias sobre a vida e nossos antepassados. Não fico entediada, respeito o sono que a velhice trouxe e cada momento ao seu lado são únicos, maneiras especiais de viver um dia por vez se aprender com ele o máximo que eu puder.
Apesar das mágoas e das feridas abertas, ao contrário do que pensam ao meu respeito, sinto pelo meu pai um carinho e uma compaixão que só a ligação de sangue pode explicar. Desejo todos os dias que ele mude suas atitudes, que construa uma nova história, que veja a sua própria vida com menos rancor e frustração e que passe a dar valor nas coisas realmente significativas como Deus, família, união sua saúde.
Não nos falamos mais, mas nesse dia dos Pais minhas orações serão para que Deus restaure nele as coisas boas que ele tinha e que talvez ainda tenha guardado e quem sabe um dia, um abraço sele nossa reconciliação. porque faz falta, faz muita falta o amor de pai.
Nenhum comentário:
Postar um comentário