Lembranças e re lembranças
Mais perto quero estar meu Deus de ti....
Hoje enquanto arrumava o quarto da minha mãe e vi a foto da minha avó dentro do guarda roupa, foi essa a música que ouvi. Quase pude senti-la cantando do meu lado.
Forte, afinada, determinada.
Essa era Dona Elizabeth.
Ainda hoje não encontrei nenhuma parecida.
Tenho sentido tanta saudade.
Semana que vem faz um ano que ela se foi, da maneira que merecia por tudo o que fez pela família, amigos, poe qualquer pessoa que precisasse: dormindo.
Nesses dias em que todos os meus fantasmas resolveram me atormentar, peço a ela em prantos que rogue por mim, assim como fez todos os dias desde que eu nasci.
Tenho precisado tanto de amor, de afeto, do tipo que ela me oferecia com seu jeito particular e dos quais hoje não tenho nem em migalhas.
Não posso dizer que estou sentindo falta de alguém específico.
Sinto falta de amor, em todas as suas formas, em qualquer quantidade.
Eu e ele nunca andamos na mesma direção, por mais que eu o sentisse dentro de mim, não recebê-lo me manteve afastada dele.
Ouço que pai e mãe te amam de verdade, que família te ama de verdade, que Deus te ama de verdade.
De Deus não ouso reclamar, me amou e ama até quando não mereço e seu amor deveria me bastar.
Mas sou humana e sinto falta de amor humano, nem que seja do pouco desse amor.
Afeto, carinho, atenção, cordialidade, esses sentimentos menos expressivos que o amor, porém não menos importantes eu consegui de poucos e raros amigos, meus avós (maternos e meu avô paterno)um ou outro familiar e um outro relacionamento.
Vale ressaltar aqui, nunca vivi um amor. Amei, me apaixonei, mas nunca vivi um amor homem-mulher, porque nunca fui amada. E pra minha desilusão, admito hoje com vergonha, que criei cada uma dessas minhas histórias, que na verdade nunca existiram, e se existiram, só na minha cabeça criativa de donzela sonhadora.
Tenho até evitado assistir dramas, comédias românticas ou filmes do gênero, porque a cada história, minha falência sentimental fica ainda mais assustadora e minha existência, simplesmente deprimente.
Consegui usando algumas artimanhas relações físicas, com pouco ou nenhum envolvimento da outra parte que me permitiram poder contar alguma dessas histórias e assim não ter que admitir vergonhosamente para as outras pessoas que nunca, realmente tive um relacionamento verdadeiro, só ficções que minha ilusão tornaram realidade, minha realidade.
Quando via e vejo meus amigos com seus pais, sinto uma inveja comiseradora, que corrói minha alma, já que desejava aquele amor pra mim. Nunca soube o que é um abraço de carinho ou consolo de pai ou de mãe. Nunca soube o que é ter a mãe ao seu lado na cama num dia de febre, ou abraçada a você num dia ruim. Nunca soube o que é o calor do abraço de pai numa tarde chuvosa ou no momento mais difícil da minha vida. Na minha casa, afeto, amor, abraço e beijo não era nem é um hábito. Que fique bem claro que não duvido dos sentimentos de mãe da minha ou de pai, apenas eles nunca conseguiram demonstrar.
Ao longo da minha vida, não anotei as noites em que fui dormir chorando porque ouvia as brigas e acusações dos meus pais, ou quando fazia alguma asneira pra chamar atenção e o que conseguia era que eles me acusassem ainda mais, se voltassem ainda mais contra mim. Houve dias em que ficou muito claro que eu me tornava persona non grata a cada atitude ruim minha.
Estou tentando escrever sobre cada momento ruim, sobre cada pesadelo que vivi sem que meus pais e irmas ao menos tivessem a curiosidade de saber mesmo estando junto a mim. Mas sempre que sento e começo a relembrar, sinto dores fortes, insuportáveis, que vão me dilacerando, me consumindo pouco a pouco, deixando quase nada do que já não há. vontade de viver.
E eu não tenho. Nenhuma.
Sem hipocrisia e mediocridade, do tipo : vc deveria se espelhar nas pessoas com câncer; vc deveria ter vergonha, não te falta nada, muitas pessoas têm menos que você e querem viver. NÃO.
N.A.O
Há dois anos peço a Deus que leve minha vida em troca da saúde do meu sobrinho que precisa muito mais que eu, que deseja ardentemente viver e eu não. E não é de hoje, tenho desistido da minha vida há anos só que ninguém quis notar.
Peço a Deus pois minhas convicções religiosas contradizem minhas intenções, no entanto nem delas resta muito.
A única coisa que sempre quis foi amor, o que mais quis e não tive.
Algumas das minhas vaidades foram satisfeitas e perdidas por não merecimento.
Perdi meu trabalho, meu reconhecimento profissional, muitos amigos, uma grande paixão, minha vida pessoal.
O pouco que consegui adquirir de beleza exterior e auto estima também foi deteriorada aos poucos, o que vejo no espelho é uma mulher gorda, feia, de pele acneica e asquerosa, de cabelos maltratados, que mal troca de roupa, que vive de chinelos baratos, tão diferentes do salto que tanto gosto.
Ainda assim querem mesmo que eu tenha vontade de viver?
Há dias não saio nem na calçada, medo de encontrar alguem que me diga de boa vontade que:
- isso é uma fase que vai passar.
O olhar compassivo, de pena, o balançar da cabeça indicam que aquela pessoa pensa como eu, mas que não tem coragem suficiente pra dizer porque a convencionalidade social da compaixão não deixa.
E quando penso que tudo estava perdido e que minha vida estava suficientemente ruim, feia, sem vida social e vivendo de domestica barata e sem perspectiva, as coisas se encarregam de ficar pior e vem um outro monstro inocente pra deixar tudo pior.
Como posso dar amor agora se eu nao sei mais o que ele significa?
Como posso amar se não quero viver?
Já não sou mais eu, lutando pela morte, há alguem querendo uma vida que não lhe pertence: a minha.
Mais dia ou menos dia irei tomar coragem e colocar um fim a tudo isso.
Sem remorço, sem culpa, sem adeus.
Vou estar serena. Assumirei as consequencias espirituais, onde os fantasmas serão mais fortes e aterrorizantes que os de agora.
Alguns sentirão a perda, poucos a ausência e por fim a maioria cairá no esquecimento.
Afinal, é como se eu ja não estivesse mais aqui.
Levarei a certeza que amei muito. Algumas pessoas com verdadeira adoração.
Até la, ficarei aqui, no meu jazigo existencial.
Na causa mortis: falência multipla da esperança por inexistência de amor
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