sábado, 10 de outubro de 2020

Tinha

Tinha dor e calava.
Dilacerava a fingida valentia, 
mas brigava. 
Tinha manias e não continha.
A irritante arte de ser assim. 
Tinha medo e corria, 
insistia em fugir. 
Fugindo se sentia segura. 
Tinha o caos, 
e confusa sua cabeça. 
Tinha feridas, 
sangrando, alimentadas por lembranças que seria mais fácil esquecer. 
Tinha desejo, a maliciosa vontade de arder. 
O fogo a consumia. 
Tinha sonhos, 
tantos, 
diversos. 
E ela só sabia fazer versos. 
Tinha sorrisos, fácil rir de si mesma e suas tragicomedias. 
E de tão ansiosa que andava pelo mundo, tinha aquela estranha e urgente vontade de ser feliz.

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